quinta-feira, 16 de julho de 2009

“FRAGMENTOS” DE VIDAS SECAS

Texto publicado no blog: www.sescliteratura.blogspot.com no dia 26/11/08 às 08h50

Hoje, acordamos – a exemplo de outros dias – sem notar diferenças no ambiente. Condicionados pela rotina, não (nos) permitimos “ver” melhor, ao invés de apenas “enxergar” a vida que levamos. Conformamo-nos, dia-a-dia, com o que vem e vai (e nem sempre volta...), tornando-nos “mais um” na multidão. E lá permanecemos. Mas... até quando?

Essa é a história de muita gente por aí. Não me isento. Nem (muito menos) você. A diferença está, justamente, no que fazemos para mudá-la. E foi nesse ponto que Graciliano Ramos (1892-1953), abriu não apenas os olhos do mundo para o Brasil – enquanto país detentor de gênios artísticos – mas mostrou a todos que ele e sua obra estão além de qualquer época, pois retratam os contrastes do espírito humano e o que ele (contrariando a tal rotina) é capaz de fazer a seu povo.

Graciliano literalmente “quebrou” a rotina do romance brasileiro, ao desmaterializar o texto seqüencial de um de seus livros em 13 capítulos-fragmentos. A obra é fragmentada como o chão do sertão, que pode ser alagoano, pernambucano, paraibano, enfim, nordestino. E recebeu o Prêmio da Fundação William Faulkner (EUA) como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea.
Falo de “Vidas Secas” (1938), da forma inovadora como foi escrito; pela atemporalidade do tema, presente em nosso país antes dele ser concebido, persistindo até os dias atuais. O romance pertence à segunda fase do modernismo brasileiro (1930-1945) e, além de ser um dos marcos deste período, é considerado pela crítica como uma das obras-primas do escritor alagoano, “mestre Graça”, para os amigos mais íntimos.
Aliás, eram poucos os amigos na vida do escritor, segundo um de seus familiares, em entrevista a uma TV local (outubro/2004), numa reportagem especial em homenagem aos 112 anos de seu nascimento. Era do tipo reservado. E reservava mais ainda seu tempo para escrever. Poder-se-ia achar até que era um solitário. Mas não tão solitário como a família de retirantes retratada do romance “Vidas Secas”. Assim explica Leonardo Almeida Filho[1]No processo criativo de “Vidas Secas”, não havia intenção de linearidade. Eram contos, com começo, meio e fim, apenas isso. Depois, foram reunidos em um único volume, que já tem 106 edições só no Brasil.
“(...) O cuidado em focalizar cada um dos personagens isoladamente indica a solidão e o primitivismo vivido pelo grupo, como resultado dos toscos e ineficientes meios de sociabilidade a que tiveram acesso. Assim, apesar de partilharem misérias, afeições e espaços comuns, os personagens vivem entregues ao seu próprio abandono, já que não conseguem articular mais do que rudes palavras, exclamações, insultos ou interjeições. (...)” (ALMEIDA FILHO, 2002)
Assim conhecemos “Vidas Secas”, hoje: uma das obras da literatura brasileira contemporânea mais lidas no mundo; agora: transformada no tema da maior jornada literária de Alagoas. É o SESC, numa ação pioneira, reafirmando o seu “compromisso social com a cultura”.



Guilherme de Miranda Ramos
Coordenador Artístico-Cultural
SESC Alagoas



[1] ALMEIDA FILHO, Leonardo (2002). Opressores e oprimidos: uma leitura de vidas secas.
Disponível em:
Acessado em 27/10/2008.

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